Fim

>> 26 de dez. de 2009


O fim do mundo está em alta. É, está no cinema e nas mesinhas de bar. Nas igrejas não se fala de outra coisa. Tá lá ele, nos documentários e nos jornais. Mais do que isso, se fizermos um esforço, descobriremos que bate em nossa porta. Assim, carregando telhados, árvores, carros, vidas.

O fim do mundo já vinha se anunciando, ninguém quis saber. Continuamos a matar tudo o que nos cerca: mares e oceanos, rios e lagos, matas e florestas, animais, alimentos. Iniciamos lenta e cruelmente um homicídio ao planeta e só nos preocupamos com o que nos importa de verdade: se vai dar praia, se nosso time vai ganhar, se à noite vai rolar aquela boate, aquele pagode... se estamos lindos o suficiente prá esconder nosso vazio real. Comprar, consumir, ostentar. Foi liberado institucionalmente o consumismo que tapa os buracos das nossas almas! Correeee!! O último a chegar é o feio da festa! Mas a correria, que já era ridícula mas tinha corpo de 25 com carinha de 18 - passou dos limites sem nos darmos conta.. só enxergamos nosso cabelão lindo, nosso braço marombado.

Agora a camada de ozônio parece ter cansado de nós e nosso umbigo gigante. Os mares estão se afogando. As geleiras, sem pernas prá se sustentar, caem aos nossos pés aliviadas por não terem mais que acreditar em nosso espírito pobre. As florestas sucumbem as nossas serras gananciosas. Os animais fogem prá lugar nenhum. Criaturas humanas definham por débeis doenças, por falta de comida. Não se passa uma hora sem que alguém meta uma bala na cara do outro.
Gente enfia dinheiro em cuecas e meias para não dividir com quem precisa de pão e leite. Há que se ter aquele fio de saúde prá enfrentar uma emergência até que se consiga atendimento hospitalar sete horas depois. Financeiras extorquem aquele centavo prá inteirar a banana que a Dona Maria levaria prá casa.

Agora queremos assistir ao fim do mundo no cinema, na TV? Ele está na nossa rua, basta colocarmos a cabeça prá fora. Se esperarmos mais um pouco, pelo intervalo da novela, nem precisaremos abrir a janela. O fim do mundo está ao nosso lado. Ou melhor, está dentro de nós.

O jeito é vomitar o individualismo até sobrar apenas o amor pela vida - dos outros também.


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